repugnava-lhe tudo que fosse combate ou resistencia.
Tinha sido doente desde pequenina, era um organismo nervoso e delicado, cheio de caprichos inconscientes, mais artistico do que reflexivo.
Gostava de musica, de flores, de versos, das cousas bellas e harmoniosas, tinha um vago desdem silencioso por tudo quanto via ser o enlevo e a preoccupação exclusiva dos seus.
O dinheiro! sempre o dinheiro!
Ninguem fallava em torno d’ella senão em dinheiro, e no entanto ella, que vivia n’um voluptuoso ninho de princeza de conto de fadas, tinha pelo dinheiro em si o mais soberano desdem.
Salvava-a isto da vulgaridade que mais ou menos contamina as mulheres ricas.
Margarida no inverno vivia em Lisboa.
Tinha então a vida futil e ociosa de todas as rainhas da alta vida.
Ia muito a S. Carlos, recebia n’uma certa noite da semana, presidia aos jantares dados por seu pae, ia passar muitas noites fóra, fazia compras, corria as modistas acompanhada sempre por miss Brown, uma correcta ingleza de sacca-rolhas côr de açafrão, que seu pae descobrira felizmente n’uma das suas viagens a Londres.
No meio d’esta vida artificial tão vazia e tão fatigante