Página:Contos e phantasias (Maria Amália Vaz de Carvalho, 1905).pdf/165

CONTOS E PHANTASIAS
159

ao mesmo tempo, que lugar havia para que ella pensasse, sentisse, desejasse alguma cousa para fóra do circulo estreito que a encerrava?

Margarida deixava-se viver.

Um dia, porém, n’um baile, apresentaram-lhe Eduardo de C., e depois de meia hora de conversação sentiu por elle o que não sentira ainda por nenhum outro.

Ficaram conhecidos.

Elle na sombra, de longe, já se vê; ella lá em cima na plena irradiação da sua graça, da sua formosura, da sua opulencia, de todo o seu esplendor.

Cumprimentavam-se com uns toques de familiaridade, e n’um ou n’outro baile d’estes a que vae toda a gente, a boa e a má, tinham-se apertado a mão mutuamente, e tinham trocado algumas phrases affectuosas.

No verão, o pae de Margarida, que tinha propriedades em varios pontos de Portugal, consultava a filha para que lhe indicasse a quinta em que mais gostaria de passar as calmas do estio.

Pouco tempo depois do encontro com Eduardo, Margarida, disse a seu pae, que a consultava como de costume:

— Este anno vamos para o Minho, sim? Sinto-me tão fraca, tão doente! O ar do Minho ha de por força fazer-me bem.