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CONTOS E PHANTASIAS
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ser de mãe, encerrava muito de maternal, sobretudo no que as mães têem de indulgente!

Nunca a vi colerica, nunca a vi tambem excessivamente animada.

Não se ria, mas tinha habitualmente um sorriso placido, quasi distrahido, o sorriso de quem se sente um pouco estranha a todas as alegrias que a rodeiam, mas que nem por isso deseja projectar as suas sombras na luz que os outros espalham em torno d’ella.

Era muito estimada pelo irmão, pela cunhada e pelos sobrinhos, uns traquinas que andavam sempre a recorrer á sua inexgotavel paciencia, e que nunca foram expulsos com um gesto de irritação ou de desamor.

Sabia a difficil sciencia de se tornar util a todos, quasi indispensavel; estreitando d’este modo os laços que a prendiam aos seus, tornando-os por assim dizer inquebrantaveis:

Sentia-se assim menos só!

Nos jantares de familia os melhores pratos eram sempre executados debaixo da sua direcção; era ella quem fazia o menu, quem distribuia os lugares, quem presidia a todos os arranjos de casa.

Encarregava-se das tarefas mais enfadonhas, d’aquella parte aborrecida que tem uma festa e que as donas da casa acceitam com tédio, mas que