Página:Contos e phantasias (Maria Amália Vaz de Carvalho, 1905).pdf/185

CONTOS E PHANTASIAS
179

retratos, todo um cortejo moço e triumphante que passava ao longe.

Exhalava se d’aquelles objectos tão esmeradamente cuidados, um vago, um indistincto perfume de saudade, como d’um herbario de flôres seccas, colhidas entre risos de crystal, nos dias radiantes da primavera...

Os pequenos então, com a sua inconsciente crueldade infantil, faziam mil perguntas, impacientes, curiosas...

— Quem era esta menina, tia Izabel? tem um vestido de seda decotado e na mão um malmequer que está desfolhando. Como ella scisma tão embebecida! Em que scismaria ella, minha tia?

— No futuro!... respondia ella sorrindo com o seu bello sorriso intraduzivel em que havia talvez muitas saudades.

— Que é feito d’ella? Era sua amiga, não era? Porque é que a não vem cá vêr nunca?

— Ao principio veio, depois casou-se; o marido levou-a a viajar, foram muito longe, divertiram-se, provavelmente ella esqueceu-se. Quando voltou trazia um filho, um baby louro e côr de rosa como o teu irmãosinho Arthur. Só o vi uma vez. As creanças absorvem muito as mães, por causa d’ellas esquecem-se de tudo, até das amigas da infancia. Hoje só sei que é muito feliz, e quando tenho