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CONTOS E PHANTASIAS

— Essa mesma.

— Olhe, ainda ha pouco a vi passar da banda do rio... São horas de a topar em casa...

Cerqueira estava emfim tranquillo.

Desapparecera o receio de não encontrar a querida velhinha.

Verdade é que podia ter tido novas d’ella em Lisboa escrevendo ao abbade, mas queria fazer uma supreza, chegar de improviso.

Áquella hora as aldeias do Minho são silenciosas e calmas, e ha n’ellas como que a intima paz das fabricas ao domingo.

Os homens andam no campo, as mulheres, quando os não acompanham, estão nos lavadouros ensaboando, e poucas pessoas, a não serem os velhos e algumas creanças, ficam em casa.

Na sombria humidade das tabernas descobre se a taberneira fiando, emquanto no quinteiro proximo os porcos com os focinhos semi-enterrados na lama grunhem voluptuosamente.

Um ou outro cavalleiro que passa ás vezes pela estrada n’um choito endiabrado, com o páo de choupa apertado nos joelhos, levantando uma nuvem de poeira dourada. E é então que os cães acordam aquelle silencio, latindo e correndo atrás dos cavalleiros, e que apparecem ás janellas e ás portas as raras pessoas que ficaram em casa.