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CONTOS E PHANTASIAS
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queria-o junto da pequena mesa de nacar onde a ama lhe dava as sopinhas; queria-o no berço ao adormecer; queria-o no jardim, á sombra das arvores, sobre a arêa finissima, onde se rolava, vestida de rendas brancas, a rir como uma perdida.

Chamaram-lhe Margarida.

Margarida quer dizer perola, e Thadeu, que vira muitas vezes sua tia vestida de baile, achava um nome muito bem posto áquella creança branca, transparente, loura, idealmente graciosa.

Oh! Thadeu ainda andava muita vez vestido de marujo, de granadeiro, de tyrolez e de alferes, ainda o introduziam no cofre da lenha, ainda o faziam fumar um charuto depois de jantar, cheio de ancias, de nauseas, de gritos abafados de angustia!... Mas que importava!

Logo que podia escapava-se para o quarto da fada, para o estojo côr de rosa da sua perola, da sua Margarida, e então eram risadas sem fim, eram corridas delirantes por sobre o tapete, era um papaguear de duas aves felizes.

Margarida com a idade ia-se fazendo despotica.

Pudera!

Ou ella não fosse mulher, e estremecida pelo seu humilde escravo!