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CONTOS E PHANTASIAS
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Entrou na sala de estudo, com um certo desdem a transparecer-lhe na physionomia.

Póde ser-se educado na Allemanha e não comprehender o Fausto: o que era no emtanto absolutamente impossivel, na opinião do moço, era não ter nunca estado na Allemanha e conhecer Gœthe como um poeta nosso compatriota.

Martha conhecia-o.

Pegou no livro que Julião lhe estendia, deitou um relance de olhos para o verso de que se tratava, e depois, com um sorriso não isento de certa malicia innocente, explicou a Julião a ideia do poeta.

Havia tanta clareza nas suas palavras, uma tão superior intuição artistica nos seus rapidos e despretenciosos commentarios, que o moço olhou para ella devéras espantado.

Pareceu-lhe que a via pela primeira vez.

Não lh’o disse, porém; pelo contrario, sentiu uma especie de surda irritação ao perceber a sua inferioridade intellectual perante aquella creança tão simples, e que todos olhavam com tamanho desdem.

Martha percebeu porventura a impressão que despertára; o caso é que a malicia que lhe chispava no olhar accentuou-se com um indeciso cambiante de ironia.

«A pequena creio que se atreve a fazer escarneo