Página:Contos e phantasias (Maria Amália Vaz de Carvalho, 1905).pdf/227

CONTOS E PHANTASIAS
221

E sentada n’uma cadeira grande, muito direita, um pouco revestida da elevada importancia do teu cargo de ledôra, repetirás alto á tua irmã pequenina este conto verdadeiro que em tua intenção aqui venho traçar hoje.

A pequena Bertha tinha cinco annos, um só mais do que os que hoje contas, Naly.

Era como tu, loura, muito loura; dera-lhe Nossa Senhora uma cabelleira de anjo, fulva, luminosa, feita de pequeninos anneis que se enroscavam, e que scintillavam ao sol, formando em torno d’ella como que um esplendor de gloria.

Os olhos muito grandes, transparentes, azues pareciam ter no fundo um segredo de doce tristeza. Um segredo que ella havia de saber muito cedo... no céo!

O seu pequeno corpo, macio, feito da brancura das assucenas que desabrocham em maio, exhalava como que um aroma de flôr.

Bem vês que Bertha era linda! Um amor! O orgulho e a ventura dos paes que se reviam n’ella.

Vivia n’uma grande casa aristocratica, discreta,