Página:Contos e phantasias (Maria Amália Vaz de Carvalho, 1905).pdf/228

222
CONTOS E PHANTASIAS

forrada de colgaduras, de tapetes, de bellos quadros antigos.

Descendo os degraus de marmore da casa em que ella jantava, entre o pae e a mãe, na sua cadeirinha de pés muito altos, ia ter a um grande jardim cheio de arvores cuidadas e decotadas pela mão habil de um jardineiro inglez.

Muito gostava do seu jardim a pequenina Bertha!

Imagina tu se ella não havia de gostar, Naly!

Havia lá tantas flôres, tantas flôres! e depois eram de tantos feitios! Umas triumphantes, purpurinas, como se as tingisse um sangue novo e generoso, outras tão brancas como os braços eburneos da mãe de Bertha, algumas tinham uma pallidez fina e morbida, que lembrava a das bellas senhoras que ella via passar resvalando como sombras gentis, pelos atapetados salões da sua casa. Outras eram, de uma côr de rosa desmaiada e doce, que acariciava os olhos de quem as via.

As campanulas azues, esbeltas, ephemeras, lembrando pequeninos calices de crystal da Bohemia, trepavam amorosamente em volta dos troncos mais robustos que as cercavam; as margaritas com a sua alvura mate e o seu feitio de estrellas resaltavam n’um adoravel contraste da verdura clara e fresca dos taboleiros de relva.