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CONTOS E PHANTASIAS
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Bertha alcançara licença para se deitar ás nove horas.

Que bom!

Um longo serão de risos, de conversas sem tom nem som, de tagarelice inextinguivel. O livro das grandes imagens, a boneca deitada no tapete, uma profusão de bonitos de todos os feitios — alguns, por peccados de Bertha, tinha-lh’os dado o negregado primo! emfim por aquelle dia, Bertha estava magnanima. Perdoava-lhes o virem da mão de quem vinham! — e elles dous, os dous amores, o papá e a mamã ao fogão, conversando com a intimidade feliz de quem se quer muito!

É verdade que a mamã estava pallida, tinha até nos olhos umas orlas rôxas que pareciam de febre, e uma luz exquisita que lembrava aquelles clarões subitos e phosphoricos, que costumam accender as bruxas, quando fazem os seus encantamentos e maus olhados.

Oh! mas que importavam a Bertha symptomas que ella não via!

Estava contente, contente, e ia-se enthusiasmando a pouco e pouco, á proporção que a alegria lhe inundava como uma onda a pequenina alma luminosa!

Um beijo no papá, uma festinha na mamã, e aqui desmanchava um canudo, acolá despregava