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CONTOS E PHANTASIAS

um alfinete, depois fechava um livro que ia começar a ler, amarrotava uma renda, trepava para cima d’uma cadeira!

Que anjo! que demonico, feito d’um bocadinho de azul!

N’isto, por um movimento rapido e imprevisto, atirou-se ao collo da mãe, mergulhou a mãosinha no decote quadrado do vestido, amachucou uma rosa, que ali parecia aninhar-se no meio das rendas, e arrancou com gesto triumphante um papel, um papel côr de perola amarrotado.

— Oh! gritou a mãe, fazendo-se mais branca do que a cal; dá cá, dá cá, isso é-me preciso.

Quem disse lá que ella respondia!

Fugira rindo, rindo como uma doudinha, e fôra esconder-se entre os joelhos do pae, agitando com um gesto de graça inimitavel o roubado trophéo.

A mãe erguêra-se convulsa, tremula, com tamanho desvairamento e tamanha angustia no olhar e na voz, que dir-se-hia que a esmagava uma catastrophe imprevista e tremenda.

— Dá cá, dá cá, murmurou ainda desfallecida e supplicante.

— Papá, papá, esconde tu, respondia Bertha, n’uma convulsão de riso. Ih! cheira a pat-chouly, cheira a pat-chouly.

Elle e ella, a mãe e o pae, olharam-se.