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CONTOS E PHANTASIAS
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dos modernos financeiros, os reis do mundo actual, percorre os salões doirados e os boudoirs phantasistas, as salas de jantar, onde se reunem as reliquias mais preciosas de umas poucas de civilisações, janta nos restaurantes de mais fama, visita nos seus camarotes da opera ou dos italianos as mundanas mais elegantes, as hautes gommeuses mais admiradas e invejadas, está no segredo de todas as operações da Bolsa, escutou a uma porta todas as combinações e convenios diplomaticos, penetrou com a sua perspicacia tenaz no interior da alma que anima o seu tempo, fallou com os artistas, com os sabios, com os poetas, com as mulheres; subiu aos oitavos andares onde dormem amalgamados n’uma dolorosa e medonha promiscuidade os miseraveis d’essa Pariz, cuja superficie é tão seductora e tão brilhante; viu os farrapos que cobriam o corpo d’esses indigentes, e os vermes que corroiam a alma d’esses parias; escutou as perfumadas confidencias que murmuram devagarinho uns labios frescos e vermelhos, por detraz d’um leque onde dançam a gavotte umas pastorinhas de Watteau.

Observou de perto o que ha de mais brilhante e o que ha de mais abjecto, o que ha de mais puro e o que ha de mais ignobil.

D’essa observação tão variada e tão completa que resultado colheu?