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CONTOS E PHANTASIAS
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minhas melancolias e tedios physicos cada dia se aggravam mais, se tornam mais longos e mais frequentes. Cahir d’este trabalho esmagador ao nada mais completo! não ter nunca ao pé de mim aquelle doce e carinhoso espirito da mulher, por quem tenho feito tanto!»

E fez! digam o que disserem os seus detractores, ninguem como elle comprehendeu a mulher, — principalmente a mulher do seu tempo, — nas suas fraquezas, nos seus crimes, nas suas delicadezas occultas, nas suas aspirações morbidas e doentias, nas exigencias despoticas da sua alma e dos seus nervos, nas abnegações sublimes de todo o seu sêr, nas suas vaidades ferozes, no esquecimento absoluto, na abdicação completa de qualquer egoismo, em tudo emfim que ella tem de bello e de feio, de grandioso e de ridiculo, de puro e de maculado.

Que o digam Eugenia Grandet, a mais doce e mais melancolica das suas creações; La Fossette, idylica visão tão sympathica como a Mignon, e mais real do que ella; a condessa de Morsauf, a martyr do dever; a viscondessa de Bauseant, a duqueza de Langeais, madame de Restaud, lady Dudley, a monumental Valeria Marneffe, e tantas outras, tragicas peccadoras, fascinantes, demonios que teem filtros na voz e no olhar; productos de uma