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CONTOS E PHANTASIAS

Porque o homem grande ou pequeno, intelligente ou mediocre, ha de sempre amar a mulher debaixo de qualquer d’estas duas formas, ou antes debaixo d’ellas ambas.

Até os bons nas suas horas de perversão, nas crises em que no coração d’elles triumpha a porção de dominio que ha até mesmo na alma dos anjos, hão de sentir-se attrahidos por este mysterio luminoso e sombrio, que na arte pagã se chamou Circe ou Helena, que na edade média foi Melusina, que na Renascença foi Imperia ou Lucrecia Borgia, que os modernos emfim conhecem debaixo de tantos nomes, que o genio de tantos homens tem revestido de prestigio magico e de superior fascinação.

Os maus... escusado é dizer que os maus, só n’essas mulheres symbolos do mal, symbolos de todas as seducções insalubres, hão de achar a graça magnetica que arrasta e que enlouquece.

Não é por isso de admirar que todos os poetas as tenham cantado, que todos os romancistas as tenham descripto, mas na feição peculiar que cada um d’elles dá ao modo por que as estuda e as pinta, é que consiste a superioridade ou inferioridade do eterno typo.

Quanto ás outras, ás boas, ás candidas, ás angelicas, poucos as comprehendem na sua genuina