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CONTOS E PHANTASIAS

Amaram, acreditaram, sentiram na plenitude do coração que a vida é boa, e que o paraiso póde encontrar-se n’um canto da terra.

Não sabem nada de toilettes, de pequenas intrigas, de namoros, de vicios mesquinhos, de invejas e de tagarelices; atravessaram o mundo com os olhos fitos n’outros olhos, com as mãos enlaçadas n’outras mãos, com a alma a cantar-lhes um hosanna de mysticos arroubos!

Se queres estudar os escaninhos caprichosos de um coração de mulher bonita e garrida, não as procures, mas tambem lhes não peças que te fallem nos nossos piedosos e obscuros deveres de todos os dias.

São as hallucinadas do amor! Arrastou-as uma tempestade para outras espheras ardentes onde se não vive a vida que conhecemos!

Vê tu — Esmeralda! que bem posto nome!

Toda ella scintilla ao sol como a pedra preciosa que lhe serviu de baptismo; os seus dedos de gitana crestados e finos arrancam ao pandeiro do seu paiz doidos e extranhos sons! Fascina com um olhar inconsciente dos seus olhos de velludo, com uma nota da sua voz crystallina, com um meneio do seu corpo de serpente.

Que sabe ella da vida? Nada; a não ser que a vida é bella, visto que ha dous olhos que ao fixar nos seus os banharam de fulgor!