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CONTOS E PHANTASIAS
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os olhos de vidro embaciado, tinha as pernas muito magras e muito cambadas, e um modo de fallar timido, acanhado, medroso que era de fazer morrer de riso os rapazes.

Os proprios mestres tinham de fazer esforço para se não rirem quando o viam.

Na hora de recreio tornou-se a victima, o bode expiatorio do collegio.

Um dia, porém, a brincadeira attingiu taes proporções que degenerou em perversa brutalidade.

Thadeu cahiu no chão extenuado a lançar jorros de sangue pelo nariz.

Do grupo estupefacto e arrependido dos collegiaes destacou-se então um, o mais velho, o mais valente o que nunca entrava n’aquellas farçadas brutaes, e disse com voz decidida:

— Tomo esse pobre diabo debaixo da minha protecção. O primeiro que lhe tocar tem os ossos n’um feixe.

Ninguem se atreveu a responder uma palavra.

Henrique de Souza era temido e respeitado.

Nas aulas era o primeiro; nas brincadeiras era o mais forte; na lucta era o mais destemido.

Orphão de pae, era sustentado no collegio pelo trabalho insano da mãe e da irmã mais velha que se haviam feito costureiras para o poderem educar.