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CONTOS E PHANTASIAS
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viviam agora todos tres mais desaffogadamente.

Occupavam uma casa pequenina mas muito aceiada e quasi nova; tinham um quintal com tres gallinhas, um casal de pombos e um canteirinho semeado de flôres.

O trabalho da casa era a mãe de Henrique quem o fazia; a irmã costurava e bordava para fóra, o irmão vivia de estudar e de esperar.

Muito unidos, muito resignados; em certos momentos mesmo, muito alegres, d’uma alegria serena e doce, a alegria dos corações honrados que confiam na providencia de Deus!

Henrique era formoso sem dar por isso. O unico modo possivel de um homem ser formoso.

Joanninha, a irmã, que já fizera vinte e sete annos, era uma doce e casta physionomia de virgem que tem padecido muito.

Nos seus grandes olhos melancolicos havia a tranquilla doçura dos que repouzam depois de uma lucta esmagadora.

Tinha a certeza de que havia na terra alegrias que nunca seriam d’ella, e no entretanto não se revoltára; puzera n’outro ponto mais alto a sua mira.

Desdobrára a sua individualidade, vivia da vida e das esperanças de seu irmão.