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CONTOS E PHANTASIAS
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ambições de outro qualquer, mas para elle isto já era uma grande, uma sublime conquista.

Ganhava o pão que comia.

Era um escripturario humilde, mas tinha direito a dizer que não dependia de ninguem.

 

VI

 

No dia em que Thadeu soube que Margarida ia chegar, a sensação que fez vibrar todo o seu sêr, foi violenta de mais para que possa ser descripta.

Acudiram-lhe em tropel, desordenadamente, n’uma confusão louca, todas as lembranças do passado, todas as queridas visões d’aquelles nove annos de extase que elle vivêra.

Estava tudo intacto n’um cantinho luminoso da sua alma, onde elle não entrava com medo de fazer fugir as avesinhas azues que eram as suas saudades.

Margarida! Bebé! A sua alegria! A loura cabecinha encaracollada, os olhos côr de azul, limpidos, transparentes, crystallinos, como um céo de primavera! os pequeninos braços gordos e nedios! a boquinha risonha! a voz musical, uma voz de cotovia acordando os écos da alvorada!