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CONTOS E PHANTASIAS
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teve a certeza de que só a veria na sala, foi vestir-se logo, envergou uma casaca de seu pae que este mandára arranjar para elle, uma casaca muito larga, já fóra da moda, de panno azulado.

Que lhe importava! Ia vê-la!

Vê-la era o céo.

Vinha-lhe á lembrança aquelle ninho de melros que apanhára um dia — sabe Deus com que trabalho — para lhe dar, e o dia em que ella lhe pedira a lua com uma gravidade tão comica, apontando para o tanque, e o balouço que ambos tinham projectado fazer, e as historias que elle lhe contava debaixo do castanheiro á tarde, emquanto que a musica do piano suspirava ao longe, e havia no ar uns rumores indefinidos de que ella lhe perguntava a explicação.

— São os passarinhos que andam a arranjar-se para se deitarem a dormir dentro dos seus ninhos — costumava dizer Thadeu.

E ella ria-se virando a cabeça muito esperta para a cupula do castanheiro, a ver se descobria como se faz a toilette nocturna dos passarinhos.

Entrára emfim na sala.

Havia grupos aqui e ali. Graves politicos que discutiam, financeiros de abdomen volumoso, matronas severas, moços elegantes, e no meio de tudo um bando de raparigas alegres, garridas, a chilrearem,