Página:Contos e phantasias (Maria Amália Vaz de Carvalho, 1905).pdf/47

CONTOS E PHANTASIAS
41

Lembrava-se que a desprezára e amaldiçoára no dia em que vira chegar a sua casa, pallido, desfeito, com uma casaca grotesca e uns olhos inchados e vermelhos de chorar, o seu pobre amigo Thadeu, que na vespera o tinha deixado tão louco de alegria e tão triumphante de felicidade!

Margarida!

Vira-a depois loura, elegante, com o seu desdenhoso olhar de myope, subir com ligeiresa fidalga o estribo de uma carruagem, descobrindo os finos bordados das suas saias, o pequeno pé primorosamente calçado, todo um poema de mysteriosas elegancias.

Nunca mais a vira, nunca mais desejára vêl-a!

Para que?

Ella lá tão em cima, elle cá em baixo lidando, tressuando, luctando para alcançar... o que talvez não tivesse nunca!

Um nome, uma posição, o pão de sua mãe e de sua irmã, sem amarguras e sem pequenas privações humilhantes!

·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·

N’aquella noite em S. Carlos a musica sentimental e enervante de Bellini, o contacto de todo aquelle mundo ocioso e rico ainda o tornava mais nervoso e excitado. Estava quasi arrependido de ter vindo.