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CONTOS E PHANTASIAS
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calado, sem que uma palavra revelasse o seu martyrio!

— Thadeu, meu querido Thadeu, meu amiguinho, tenho sido muito má, não tenho querido contar-te nada com medo de que lhe dissesses a elle alguma cousa. Eu queria ser a primeira a dizer-lh’o, queria gozar do seu sorriso, do seu olhar de anjo, de martyr beatificado, do seu olhar que me enlouqueceu para sempre... Agora digo-te, já não tenho motivo nenhum para t’o esconder.

Vou casar-me, vou ser d’elle, só d’elle... levar-te-hei comnosco... Olha que foi elle que m’o pediu... Vê como elle é bom. Eu a fallar a verdade estava tão douda que nem me lembrei de similhante cousa; mas elle fallou logo em ti, foi a sua primeira vontade! Adoro-te visto que elle é teu amigo. Has de aborrecer-me ás vezes, meu pobre Thadeu, porque nunca entendes a tempo quando deves ir-te embora, mas eu hei de educar-te. Verás! Viveremos todos tres. Nunca mais te hei de tratar mal! nunca mais me hei de rir da tua casaca. E, a proposito, tu ainda a tens, aquella malfadada casaca? Não me faças rir no dia do meu casamento, pelo amor de Deus manda fazer uma nova para esse dia. Não tenhas medo de gastar. Eu tenho muito. Sou rica, muito rica, somos todos tres muito ricos.