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CONTOS E PHANTASIAS

E douda, anhelante, no delirio da creança que venceu a sua primeira teima, na dilatação ampla de uma alma que conquistou o seu desejo supremo, Margarida expandia n’estas palavras diffusas, incoherentes, sem nexo, toda a felicidade que era hoje d’ella e que julgava eterna.

Thadeu escutava com o olhar morto e vidrado de um somnambulo.

Depois emmudecido por uma dôr aguda que lhe rasgava as carnes de todo o seu corpo como um punhal de muitas laminas, sahiu do quarto cambaleando como um ebrio.

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No dia do casamento de Henrique houve dous entes que na humilde tristeza de uma pobre casa, choravam unidos todas as lagrimas da sua alma.

A um d’esses entes pungia-o uma angustia dilacerante demais para que a palavra humana a pudesse traduzir.

A outro sobresaltava-o um presentimento horrivel, como que um dobrar de finados que lhe écoava lá dentro, e ao qual não podia fechar os ouvidos.

Esses dous entes esquecidos, voluntariamente afastados das pompas principescas d’aquelle dia, das festas d’aquella solemnidade esplendida eram Thadeu e a irmã de Henrique.