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CONTOS E PHANTASIAS

fallava com tamanho louvor do filho estremecido.

Quando elle descobria o seu fraco, era quando lhe elogiavam na presença outro rapaz, outro estudante.

— Sim, sim, mas como o meu! Não é porque o rapaz seja meu filho, mas disse-me o prior, e olhe que o prior não é tôlo nenhum, pois disse-me o prior que o meu pequeno era o melhor estudante que andava nas aulas de Braga, que lh’o tinham dito os proprios mestres. Aquillo tem uma memoria! E então lêr! Ás vezes estava horas e horas a ouvil-o, fazia gôsto. O talho da lettra já foi melhor, isso foi, mas o prior, a quem eu disse isto, consolou-me, dizendo-me que todos os doutores tinham má lettra. Assim será, mas as primeiras cartas que o pequeno me escreveu, quando foi para o estudo, podem mostrar-se... Quer você vêr uma d’essas cartas?...

Toda a gente da aldeia gostava do velho, e não havia uma só pessoa que para o lisongear, ao encontral-o, lhe não perguntasse pelo filho.

— Obrigado, vae bom! e com um sorriso doce, enternecido e caridoso envolvia o da pergunta.

O tempo das ferias, sobretudo as do Natal, que é quando se mata o porco, e se fazem filhós, e se conversa animadamente em volta da lareira, era anciosa e impacientemente esperado pelo velho;