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CONTOS E PHANTASIAS
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E bebia de um trago, valentemente, com alma.

O estudante ás vezes, na vinda de Coimbra, chegava a Braga, onde tinha amigos e condiscipulos antigos, e ficava mais um dia. De fórma que o velho esperava, e ia deitar-se cheio de cuidados; não pregava olho toda a noute.

A Joanna, que bebera o mesmo leite que Sebastião, ouvindo-o gemer e suspirar, erguia-se, e perguntava-lhe:

— Tem alguma cousa, sô Sebastião?

— Que é? O estudante chegou? Já me levanto, traze-me a candeia!

E era preciso que a velha lhe explicasse tudo, e que o emballasse carinhosamente com aquellas doces palavras com que as mães adormecem os filhos rabugentos.

O tio Sebastião, quando casou, tinha cincoenta annos, uns cincoenta annos limpos e rijos como não ha ahi muitos trinta.

Emquanto a mãe foi viva, não lhe quiz dar nóra.

— Nada! dizia ás pessoas que lhe aconselhavam o casamento, nada! Que lucro eu com isso? A velhinha podia não se dar com o genio da mulher que eu trouxesse para casa e isso era o inferno