Página:Contos e phantasias (Maria Amália Vaz de Carvalho, 1905).pdf/94

88
CONTOS E PHANTASIAS

asseteava com o acre azedume de quem já mourejou nos bastidores da politica, e lhes conhece de sobejo os fumosos mysterios.

Estava Antonio de Vasconcellos no Chiado, conversando com um condiscipulo, quando o diplomata se apeou de um trem, e se deteve a conversar alguns instantes com umas senhoras que iam passando.

— Sabes quem é aquelle sujeito? perguntou-lhe o condiscipulo.

— Não.

— É Jorge de Alvim. O velho mais moço que passeia n’esta cidade sorumbatica e sôrna...

— Esse nome não me é estranho. Foi condiscipulo de meu pae que o estimava e tinha em grande conta, e até se me não engano, queimei uma larga correspondencia travada entre aquelle homem e meu pae. A elle pessoalmente não conhecia, mas é sympathico.

— E homem de grande influencia politica.

N’este momento o cavalheiro F. e o ministro L. que passavam, acercaram-se do diplomata e demoraram-se com elle em palestra em que pareciam enlevados.

— Repara tu como elles o tratam! concluiu o condiscipulo de Vasconcellos ao dar-lhe o aperto de mão de despedida.