E muitas vezes era noite escura,
Quando um guarda, ou um coveiro
Ia buscal-o junto á sepultura,
Por serem horas de fechar-se a porta.
No mez seguinte visitava a morta
Apenas uma vez por dia, e, em breve,
Uma vez por semana,
Pois não ha dor que o tempo não a leve,
E ninguem torce a natureza humana.
Ao pé da sepultura de Maria
Uma cova vasia
Esperava o defunto.
— Que boa cova para mim! pensava
Fernando Veiga. Ficaria junto
Da esposa morta a quem eu tanto amava!
Porém um dia a cova achou tomada,
E, na terra, de vespera socada,
Uma corôa em que elle viu, curioso,
Esta banalidade:
«Ao meu querido esposo,
Tributo de saudade.»
Na semana seguinte o meu Fernando
Viu, debulhada em lagrimas, orando,
Ajoelhada junto áquella cova,
Uma senhora ainda muito nova,
Trajando espesso, rigoroso luto,
E pensou: — Deve ser a do Tributo.