MORTOS E VIVOS
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Viveu casada um anno, um anno apenas;
Morreu-lhe o esposo em plena primavera.

Depois, pensaram ambos no mysterio
Que os reuniu naquelle cemiterio,
Elle ainda tão moço, ella tão bella.
— Dir-se-ia até, Fernando obtemperava,
Que a mulher delle e que o marido della
Eram a força que os approximava...
Sim, porque a morte os vivos approxima!

O caso é que Fernando foi amado,
E’ o morto? Poz-se-lhe uma pedra em cima,
Do mesmo preço, egual á de Maria...

O resto? Eil-o aqui vae sem circumloquios:
Cessaram os colloquios
Na paz do cemiterio:
Procuraram logar menos funereo.

Uniram-se na egreja os namorados,
E depois de casados,
Só dos queridos mortos se lembravam
Quando um com o outro acaso disputavam,
Pois são favas contadas: quem se casa
Com viuvos ou viuvas, sempre em casa
Tem, pelos cantos ou por traz das portas,
As virtudes dos mortos ou das mortas.

Os dois defuntos nunca mais, coitados,
Foram pelos esposos visitados...