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CONTOS CARIOCAS


Que esteve quasi á morte;
Mas arribou, e, aos poucos, resignada
Co’ a sua triste sorte,
Disse comsigo um dia: — Paciencia;
Farei de conta que não sou casada,
E meu marido é um hospede: — A existencia,
Que d’ali por diante
Passou, foi toda de trabalho. A pobre,
Para que em casa não faltasse o cobre,
Fez-se negociante.
O commercio ambulante
De doces, que ella mesma fabricava,
Sobejamente dava
Para toda a despeza
De casa, roupa e mesa.
Que mais ella queria?
Naquella casa luxo não havia;
Ella não tinha filhos, pois — pudéra! —
Essa ventura o esposo não lhe déra.
A principio sorrira-lhe a esperança
De ter uma criança
Que suavisasse o triste isolamento
Causado por aquelle casamento;
Porém, levado pela sorte avara,
O seu desejo de ser mãe passara
Como passa uma louca fantasia.

II

Fabricio, um bello dia,
Mudar de vida resolveu. — Que diabo!