164
CONTOS BRASILEIROS


Metros de seda cara,
Que custar deveriam...
Quanto? — os olhos da cara!
E os labios seus tremiam!
Para a ingrata o Parnazo era o armarinho,
E o Apollo era o Godinho!

Metteu, desilludido, na algibeira
Os retalhos. Sahiu. Foi para o banco,
E, inspirado, nervoso, num arranco,
Passou a mais feroz delcalçadeira
Na exigente corista em verso manco.
A’ noite, em vez de lhe mandar fazenda,
Na fórma da encommenda,
Mandou-lhe a versalhada.
Leu-a a corista e deu muita risada.
Andou de mão em mão a poesia,
E foi lida por toda a companhia.
Alfredo, esse dormiu tranquillamente,
Aliviado e contente,
Durante a noite inteira.

Foi a esposa a primeira
Que da cama se ergueu. Eu cá duvido
Haja no mundo uma mulher casada,
Embora muito honrada,
Que não reviste os bolsos ao marido,
Quando este ainda se acha recolhido...
Tinha do Alfredo a esposa taes trabalhos,
E por isso encontrou os dois retalhos.