A MAIS FEIA
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A inditosa Laurinda, todavia,
Tinha tal graça e tanta sympathia,
E tão bonitos dentes,
Que os da familia amigos e parentes
Todos gostavam della;
Só o Pennaforte não lhe perdoava
Não ser, como as irmans, bella
E com menos carinhos a tratava.

A Leonor e a Joanna
Vestiam do melhor, quasi com luxo:
Era rara a semana
Em que perdiam festa,
Embora o pae se visse atrapalhado
Era aguentar o repuxo.
A Laurinda calava-se, modesta,
Até sorria de um sorrir magoado,
E vestia as irmans, e as enfeitava,
Qual n’outros tempos a mucama escrava.
— Fica em casa! dizia o Pennaforte.
Que irias lá fazer se te eu levasse? —
E ás outras em voz baixa accrescentava.
— Com tal cara não ha quem na supporte
Meninas, a vox popoli fallace
Diz que os filhos maís feios
São pelos paes os filhos preferidos.
A tal proposição não deis ouvidos,
Pois em todos os meios
O contrario se vê; sempre a belleza
A preferida foi pelos humanos,