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que, nos séculos IV e V de nossa era, já florescia por toda a península. A prédica e a catequese não podiam deixar de levar, então, o conhecimento do Latim à mesma população dos campos. Por tal meio, o domínio dessa língua devia tornar-se completo em todo o território espanhol.

Nada, senhores, é tão eficaz para propagar e perpetuar o uso de uma língua, como a Religião que, identificando-se com o espírito pelos meios os mais poderosos, constituíam a base de toda a crença e moral pública. Disso podia, eu, apresentar-vos muitos e diversos exemplos, mas prefiro limitar-me aos conhecidos. O Latim que deixou de ser língua comum há coisa de sete ou oito séculos, é há mais de mil e oitocentos anos a língua sagrada da Igreja Católica e a língua oficial da Cúria Romana. O Sânscrito, muito mais antigo que o Latim, e donde se presume que este deriva, atenta à estreita analogia que se dá entre ambos os idiomas, muitos séculos há que deixou de ser língua comum, mas é ainda hoje a língua sagrada dos Brâmanes, que a estudam, como nós, o Latim.

Na época citada, já a religião cristã se achava tão arraigada e resplandecia tanto na Espanha, que os bispos ali celebravam frequentes concílios sobre as coisas da igreja, e o clero espanhol não cedia em ilustração ao da África ou de Cartago, que era então que mais se distinguia por sua instrução e talento.

No último dos dois mencionados séculos, ou no V, deu-