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mas nem sequer o bárbaro, cujo uso era mantido entre os vencidos, seja pela diversidade da crença religiosa, seja pela constante e gloriosa luta, que estes encetaram logo com os invasores até expulsá-los por fim de todo o solo espanhol no século XV, de nossa era. Mas, se os Árabes, no seu longo e disputado domínio de oito séculos, não conseguiram substituir o Latim pelo Arábico, porque o cristianismo a isso opunha insuperável barreira, não é menos certo que concorreram quase tanto como os Godos para a corrupção da língua latina na Espanha, porque nela foram, então, introduzidos muito termos árabes, que passaram depois em grande cópia para o Espanhol moderno e, em muitos menos quantidade, para o Português.

Do Latim, assim barbarizado e corrupto por duas invasões sucessivas de povos de índoles, crenças e línguas diversas, formou-se o Castelhano ou o Espanhol moderno, do século XI de nossa era, e o Português um século ou cinco quartos de século mais tarde, sendo que já do século XIII temos documento escrito em língua portuguesa.

O monumento de língua espanhola mais antigo, que chegou até nós, é o romance do Cid, ou famoso capitão Rui Dias de Bivar, que viveu no século XI. Esse romance, porém, escrito em Espanhol, já inteligível para os espanhós de hoje, é evidentemente de data posterior ou do século XIII. O cancioneiro do mesmo Cid, escrito já em Espanhol muito mais correto do