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Com ser tão evidente a todos os respeitos à origem latina do Português, houve, contudo, quem a impugnasse para dar a nossa língua uma origem céltica, o que prova tão somente que não há opinião alguma, por mais extravagante absurda que seja, que não tenha seus sectários. Foram os meios notáveis dessa singular opinião, Antonio Ribeiro dos Santos, poeta de reconhecido mérito, e Frei Francisco de S. Luís, filólogo acreditado por seus escritos sobre a língua.

Uma tal opinião, porém, não tem fundamento algum plausível e nem sequer vale a pena de ser refutada, porque, para um só termo de origem céltica duvidosa, o Português apresenta mais de um cento de termos de origem latina incontestável. Opõe-se ela, de mais a mais, ao consenso unânime dos doutos, tanto na Europa como na América, os quais todos, a uma voz, concordam em dar ao Português e idiomas seus análogos uma filiação latina irrecusável, deduzida do estudo comparado das línguas. E, com efeito dizer contra a evidência, que se está metendo pelos olhos, que o Português vem do Céltico, só porque contém alguns termos dessa antiga língua falada na península, é o mesmo que supor que o Espanhol vem do Arábico, porque contém muitos termos árabes, posto que em quantidade diminutíssima, comparativamente a termos latinos, que constituem o principal elemento de sua formação.

A errônea opinião dos dois filólogos acima citados foi, no entanto, plena e cabalmente refutada por