Página:Curso de litteratura portugueza e brazileira (Sotero dos Reis, 1866, v 1).djvu/64

Garcia de Resende, o Cronista de D. João II e seu moço da câmara e privado, se não apresenta na sua prosa o número e a harmonia da de João de Barros, já tem menos esperteza, que os que o precederam na ordem cronológica.

Gil Vicente, o fundador do teatro Português, tem muita naturalidade, abundância e sal nos seus autos e tragicomédias. É a justo título que lhe dão o nome de Plauto Português.

Bernardim Ribeiro, o primeiro romancista Português, já tem mais número e harmonia em sua prosa do que Garcia Resende, e, nos seus versos, muita naturalidade e melancolia. É sobretudo admirável na expressão do sentimento, qualidade em que ninguém o excede, a não ser o grande épico português.

Sá de Miranda, que fez uma revolução na poesia portuguesa, introduzindo nela o verso hendecassílabo, ou verso branco italiano, apresenta nas suas comédias o modelo de uma prosa muito castigada, e, nos seus versos, mais gosto e variedade do que os que procederam. É um sábio e profundo moralista, cujas obras denunciam grande estudo da filosofia moral.

A língua já tinha então adquirido o necessário polimento e acomodava-se já a todo o gênero de assuntos. As terminações em ou dos nomes e verbos, usadas ainda no tempo de Fernão Lopes, do rei D. Duarte e de Azurara, foram convertidas em ão nasal, longo ou breve. A alteração na ortografia,