INTRODUÇÃO

Criptografia em defesa da privacidade

Leonardo Foletto

Na década de 1970, o professor de literatura canadense Marshall McLuhan profetizou que o “novo mundo” criado pela tecnologia, com informação em abundância e “aldeias globais” amplamente conectadas e espalhadas pelo mundo, veria o fim de um dos direitos fundamentais da humanidade: a privacidade. “Eu discordava dele e dizia que ainda éramos capazes de manter silêncio sobre as coisas”, afirmou em 2014 Derrick de Kerckhove[1], herdeiro da cadeira e do pensamento de McLuhan na Universidade de Toronto. “Ele dizia que não, que o fim da privacidade era como um tsunami: ´você pode nadar, mas não vai servir para nada`”.

McLuhan construiu seu pensamento teórico pop, provocativo e amplamente difundido na mídia da época a partir de uma robusta pesquisa histórica e de uma coragem de apostar: dizia que os computadores estariam ligados em rede como a fase final das extensões do homem, chamada por ele de “simulação tecnológica da consciência”, “pela qual o processo criativo do conhecimento se estenderá coletiva e carnalmente a toda a sociedade humana”, como disse em seu clássico “Understanding Media” (“Os Meios de Comunicação Como Extensões do Homem”, publicado no Brasil pela Cultrix desde 1969). Essa consciência tecnológica simulada e estendida a toda sociedade criaria um “novo mundo”, não mais uma vila isolada, mas “a grande família humana em uma só tribo” — a aldeia global, um de seus conceitos mais conhecidos. Uma só tribo conectada e moldada pelas tecnologias

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  1. Fonte: https://baixacultura.org/o-fim-da-privacidade-e-a-etica-da-transparencia/