POSFÁCIO

Retrospectiva e expectativa

Cypherpunk

André Ramiro

Com mais de trinta anos da sua gênese — uma confluência de ameaças de mecanismos regulatórios sobre a exportação de criptografia, utopias californianas[1] que resistiam a ensaios de políticas de vigilância (que se materializariam no futuro próximo) e uma sequência de encontros entre engenheiros de software e hardware influenciados por escritos tecno-libertários — o ideal dos cypherpunks germinaria sobre gerações de criptógrafos, programadores e ativistas. O movimento irá compor um verdadeiro sistema de natureza tecno-social que ganharia uma elasticidade em diferentes contextos sociopolíticos desde o fim da década de 80 até os dias de hoje.

Isso porque, ainda que cypherpunk significasse inicialmente um grupo de pessoas podemos expandir sua simbologia para além da qualidade pessoal e agregar diferentes formas de “ação política”. Quer dizer, tecnologias podem ser cypherpunks, como o The Onion Router (Tor), o Pretty Good Privacy (PGP) ou o WikiLeaks; articulações sociais podem ser cypherpunks, como as criptofestas em dezenas de localidades do mundo e as diversas mobilizações da sociedade civil de defesa dos direitos conexos à

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  1. É interessante pensar como o libertarianismo cypherpunk dialoga, ainda que pontualmente, com o que Richard Barbrook e Andy Cameron chamaram de “ideologia californiana”. Timothy May, por exemplo, foi leitor de Ayn Rand e refletia, em alguns posicionamentos políticos, parte da sua filosofia centrada em um certo individualismo. Ver GREENBERG, Andy. This machine kills secrets: how WikiLeakers, cypherpunks, and hacktivists aim to free the world's information. Dutton, 2012.