Cypherpunks para tornar

o big brother obsoleto

Todas essas expressões, no entanto, carregam transversais que são invariáveis: defendem a criptografia e os sistemas descentralizados. Esses elementos estão também nas ideias iniciais de David Chaum - o “profeta sem intenção” dos cypherpunks dos anos 90. Em um artigo chamado “Security Without Identification: Transaction Systems to Make Big Brother Obsolete” (1985), conseguimos mapear boa parte da crítica à vigilância governamental — e às múltiplas faces dos mercados de dados pessoais cujo saldo resulta em uma inibição galopante do indivíduo e da coletividade — que será explorada nos manifestos publicados aqui[1]. Timothy May, então recém-ex-funcionário da Intel[2], irá dar tração às ideias de Chaum com o primeiro dos manifestos cypherpunks, o Manifesto Criptoanarquista, o segundo desta coletânea.

Na visão de Tim May, a criptografia de chave pública foi tão importante para a virada do século XXI, em termos de revolução comunicacional, quanto a invenção da prensa de Gutenberg foi no século XV. Da mesma forma que a difusão de conhecimento possibilitada pela prensa potencializou a desestruturação do modelo de retenção e silenciamento de informações característicos do poder medieval, a criptografia seria, igualmente,

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  1. “A computação está afastando os indivíduos de sua habilidade de monitorar e controlar as formas que informações sobre eles são utilizadas. (...) Um alicerce está sendo posto para uma sociedade do dossiê, na qual computadores podem ser usados para inferir sobre o estilo de vida, os hábitos, a localização e associações dos indivíduos a partir de dados coletados em transações de consumo ordinárias” (trecho em tradução livre).
  2. Conta-se que Tim May, após sua saída da Intel e já engajado com a guerrilha em defesa da privacidade, irá se apropriar do famoso logo da empresa (Intel Inside) para criar o que seria um dos primeiros memes anti-vigilantistas: em diversas lojas de eletrônicos da região, irá colar adesivos com a logo “Big Brother Inside”.