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ASIA de João de Barros

deſte Reyno, andavam todos tão torvados, e fóra do ſeu juizo pelo temor lhes ter tomado a maior parte delle, que não ſabiam julgar em que paragem eram. Mas aprouve a piedade de Deos, que o tempo ceſſou; e poſto que os ventos lhes fizeram perder a viagem que levavam, ſegundo o regimento do Infante, não os deſviou de ſua boa fortuna: deſcubrido a Ilha, a que agora chamamos Porto Santo, o qual nome lhe elles então puzeram, porque os ſegurou do perigo, que nos dias da fortuna paſſáram. E bem lhe pareceo que terra em parte não eſperada, não ſómente lha deparava Deos pera ſua ſalvação, mas ainda pera bem, e proveito deſtes Reynos, vendo a diſpoſição, e ſitio della: e mais não ſer povoada de tão féra gente, como naquelle tempo eram as Ilhas Canareas, de que já tinham noticia. Com a qual nova, ſem ir mais avante, ſe tornáram ao Reyno, de que o Infante recebeo o maior prazer, que té quelle tempo deſta ſua impreza tinha viſto, parecendo-lhe que era Deos ſervido della, pois já começava ver o fruto de ſeus trabalhos. E accreſcentava mais a eſte ſeu prazer, dizerem aquelles dous Cavalleiros, a hum dos quaes chamavam João Gonçalves Zarco dalcunha, e ao outro Triſtão Vaz, que vinham tão contentes dos ares, fitio, e freſquidão

da