Estávamos a conversar no gabinete de Jorge Praxedes. Era um fim de tarde prolongado por um lindo e maravilhoso ocaso. Jorge oferecia chá em xícaras de porcelana da Pérsia; havia largos divãs sonhadores entre as mesas atulhadas de bugigangas de arte, e naturalmente, a atmosfera, o tabaco turco, o chá, tudo isso nos dava a lombeira das recordações e o desejo de fazer frases. Já tínhamos falado do amor, da vertigem do tempo, do galope da existência e de outras coisas novas.

— É curioso, disse um da roda, nós os homens modernos não temos a sensação do passado, do não sentido, do total alheamento que o passado devia dar. As dores, as alegrias, as modas ficam na memória como coisas presentes que se afastaram. Para um homem que vive a vida intensa não há propriamente passado, há um acumulador que não dá a impressão especial do antigo, do acabado, do que não volta mais e há muito tempo terminou.

— Paradoxo!

— É fato. Como homem as minhas amantes