em quando, chegavam rapazes com vozes súplices:
— Firmino, agora, aquela tua polca.
— Qual delas? interrogava o pianista com a fronte de orango camarinhada de suor.
— Aquela muito bonita, aquela mole...
E, ali mesmo, baixinho, trauteavam compassos.
— Tocas?
— Pois não.
Por esta apreensibilidade de motivos musicais, percebi estar diante de um desses pianistas da moda, peculiares à nossa sociedade, homenzinhos que vivem de escrever, com alguns erros e muitas aclamações, polcas, valsas e outros sons dançantes. Os jornais anunciavam mensalmente, havia dois anos, novas composições suas, e, como um decreto, o seu nome triunfava nos salões modestos.
A vaidade enlouquecera-o quase. O Firmino tinha a certeza de estar no galarim e, tocando, acompanhava com os ombros e a cabeça o balanço langoroso dos compassos, de olho aberto, beiço revirado, tal qual um gênio inebriado com a própria revelação.
Talvez o fosse. Há gênios para tudo.
Eu ficara depositado numa rocking, ouvindo o Firmino e um velho químico, professor de Faculdade, o dr. Hortêncio Guedes. O dr. Hortêncio falava mal do próximo, de modo que o Firmino não me escapava, dada a minha natural reserva