Os pares voltaram todos ao salão. Prates pareceu recordar; atacou um acorde, depois outro, e os primeiros compassos ecoaram. Um vago mal estar pareceu, de repente, estreitar a sala. Que coisas cômicas, que coisas grotescas, que coisas estúpidas, essas notas de piano sugestionavam à gente!... A sensação do passado enraivece sempre. Os convidados estavam irritados como se fossem recebendo uma longa humilhação. Eu tinha vontade de rir e ao mesmo tempo de destruir, de quebrar o piano. Na sala, as meninas largaram os pares desanimadas; moças nervosas sentavam-se aos cantos e era uma crescente exclamação de desprazer.

— Qual! Não é possível! Ninguém compreende isso! Pára! Afinal, um, mais ousado, aproximou-se do piano:

— Ó Prates, toca qualquer coisa de mais novo.

Uma voz rouca respondeu:

— Hein? não estão gostando?

— Muito, não. Vê se nos dá a Valse Bleu.

— A Bleu? Ah! Essa não conheço. Parou, fitou um instante a parede fronteira, correu a mão pelo teclado:

— Vou tocar um dos meus sucessos.

Eu olhava-o como se olha um monstro, um trambolho que é preciso destruir e ele estatelava nas sete oitavas uma espécie de belchior melódico, tendo tudo, desde o Seu soldado não me prenda até os compassos do tempo em que o Furtado Coelho intitulava as valsas de homenagens e as meninas