Gomes. Estava a despir-me, quando senti passos abafados. Abri a porta devagar. Era o alegre e sempre espirituoso Pontes. Vinha para o seu quarto. Mas não. Parou no quarto de Mme. de Santarém, experimentou uma chave, torceu, entrou. Oh! a imoralidade dos hotéis honestos! O felizardo ia gozar as delícias de um aprês-midi amoroso com a honestíssima senhora! Pouco depois, porém, ouvi um leve rumor, espiei de novo. Era Pontes, com o ar mais natural, que fechava o quarto e andava ligeiro. Quis fazer-lhe uma pilhéria, gritar; - aí maganão! ou outra parvoice qualquer - porque eu sou de natural pândego. Mas deixei para o jantar, recolhi. E no jantar Mme de Santarém, que chegara momentos antes, apareceu transmudada: tinham-lhe roubado o broche de rubis.

Estávamos todos no salão e sustiveram-se todos num pasmo raivoso, quando a gentil senhora bradou:

- Acabam de roubar o meu broche de rubis! Mais um!

Os meus olhos cravaram-se no Dr. Pontes. Tinha o mesmo pasmo dos outros, o mesmo ar, o mesmo olhar.

Uma idéia atravessou-me o espírito. Era ele o gatuno! Não havia dúvida. Era agarrá-lo ali, logo... Mas se fosse apenas o amante? Afinal era um homem que devia respeitar a família e o tio!

As provas eram contra ele, absolutamente contra. No hotel ninguém poderia lembrar-se de sair