de hotel no Estoril. Laurinda tomou-a como quem consulta um pequeno Larousse, e as suas extraordinárias toilletes, os seus adereços, feitos no Vevert da rua da Paz, em que as pedras brasileiras tinham rebrilhos inéditos cravadas em brilhantes, eram desenhos da velha inglesa. Grande época aquela! Época de excessos, de conquista, de triunfo. O grave Belfort de vez enquanto pasmava.

— Pois que! Tu agora fumas?

— Com efeito, grelho uma cigarreta.

— Mas é grosseiro.

— É ultra fashion. Não sabes nada disso. És old style.

E montou um salão de banho, em que a água da piscina parecia descer de um enorme vitral representando avalanches de neve em montes, tudo quanto há de mais pré-rafaelita. Todos os objetos e utensílios obedeciam ao motivo algas do fundo do mar.

Mas em breve, a vitória mundana fatigou-a. Era preciso mais alguma coisa. Uma Alice Verride, senhora entendida em adultérios mas da melhor sociedade disse-lhe um dia:

— Minha cara Laurinda, precisas de um homem.

— É boa. E meu marido?

— O marido não conta nunca, principalmente quando nos faz todas as vontades. Precisas de um homem que te preocupe, cuja paixão seja um piment para a tua vida, um ser violento. Nunca amaste?