Os botequins vão fechando, rareia o trânsito, Passa de vez em quando um bonde. Aparecem os varredores da Limpeza Pública, numa nuvem sufocante de poeira. Armando está ainda à esquina, mastigando a ponta do cigarro. E vê então que há luar. A lua cheia, muito lânguida e muito pálida, estende pela casaria a poesia misteriosa da sua luz. Oh! a velha lua! Como consola os tristes e os desgraçados! Armando vai indo a pé, olhando o céu, olhando a lua. Desce as ruelas escuras, dá no gradil do campo de Santana, rescendente de aromas silvestres. Tudo é calmo, tudo é docemente quieto. A brisa leve embala os ramos das árvores num suave perpassar, e do alto, amplo, como uma ânfora de consolo e bem-aventurança, o astro derrama a delícia tranquila do seu esplendor. Não poder saltar aquele gradil, estender-se na relva, ofertar-se à lua numa longa hora de choro e de lágrimas... Dói-lhe tanto o estômago! Vai até a Central, já com os focos apagados. Há uma negra vendendo mingau para uma roda de notâmbulos: marinheiros e soldados ébrios, fúfias de galhinho de arruda e chinelas sujeitos ambíguos de calça balão. Palavrões choviam. A negra lavava a louça, e ao seu lado um canzarrão cinzento com vestígios de lepra, roncava. Um momento hesitou. Tomaria o mingau? Mas a viagem? Não! Era melhor dormir, dormir tranquilo. Entrou, caminhou até ao saguão, foi até ao embarcadouro. No saguão havia o vigia a dormir. Na gare, um cavalheiro passeava devagar com uma