morno, com uma alma de serralho e de mel por aspirar um frasco de essência de rosas. Esses perfumes entravam-me no crânio como estofos bordados de pedraria, como broquéis incrustados de gemas coruscantes. Deixavam-me sonambúlico, com frases de antifonário e sonhos de rosas de Chraz, de Kemar, de Kashmir. Vi então que a minha doença não amava as concentrações mais ou menos industriais.

- Príncipe Encantador, havia as flores...

- Sim, as flores, amei as flores, tateando na sombra do mal. As flores são as caçoulas dos perfumes naturais. A natureza condensa nelas o olor das suas paixões, a alma dos seus desejos, as recordações de tonturas, de frenesis ou de grandes repousos celestes. Não sorrias. O que eu sinto não o dizem palavras. É preciso descobrir frases prismáticas como certos cristais e vê-las à luz do sentimento, que percebe para além das coisas visíveis. Os deuses gostavam de perfumes; o perfume exorta e exalta. Por que lisonjear os deuses com perfumes, se não tivéssemos a idéia do sacrifício, do grande pecado da natureza que ele representa? Há flores cujo perfume é cínico, outras cujo cheiro é banal, outras cujo olor se celestiza, outras ainda que nos dão desesperos de carne. É possível ter à lapela uma gardênia sem sentir cefalalgias horas depois? É possível cheirar certas rosas sem odiá-las?

- Mas, meu querido, procuras apenas pretexto para dizer coisas infantilmente interessantes. Olha