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« Para a mulher ó ainda hoje muito difficil alcançar o vôo; graças, porém, aos alicerces do seculo XVIII, lançados no mundo por J. J. Rousseau, Voltaire... já á voz de Stuart Mill e outros talentos vae cahindo por terra o anomalo pensamento de madame de Pompadour, que-a mulher só deve enfeitar-se e ataviar-se para parecer bonita. Será, porém, ainda neste seculo que a mulher poderá se hombrear com o homem ao banquete da sciencia; mas surgirá emfim a aurora da redempção, e illuminada pelo clarão ridente dessa luz divina, a sciencia se precipitará com mais força no caminho do progresso. Dispa-se o homem de seu inusto egoísmo, erga a mulher até si, sente-se com ella á mesa do estudo, e muitos delles deverão a essa meiga alliada, que tudo cede ao que ama, o seu logar no pantheon da historia.

« Eu disse que lhe satisfaria o pedido que me fez; mando-lhe pois uma poesia, a primeira que compuz, primeiro canto que meus tremulos e medrosos dedos arrancaram da lyra, primeira expansão de uma alma ardente e enthusiasta n'um arroubo apaixonado. Eu tinha então a minha fronte cingida pela grinalda eternamente poetica dos quinze annos; em torno de mim tudo era luz e perfume, meus, labios só sabiam rir e cantar, meu coração só sabia crer e amar. Cada inverno que passa leva-nos um sonho risonho, uma crença côr de roza, e assim se esgota o cofre das illusões.

« Nessa primeira poesia vejo-me a criança feliz e amorosa, e nas outras a mulher de fronte pensadóra, olhar frio e riso sem expressão. A mulher por conseguinte nada lhe manda; contente-se com o presente da criança...»

A poesia, que acompanhou a carta, de que transcrevi o trecho acima, tem por titulo:

- O que mais queres?...- Vem no citado livro, e della transcrevo


Dou-te o meu coração cheio de enlevos
As esperanças repletas de fulgores,
De um futuro sonhado, cór de rosa...
O que mais posso dar-te, meus amores?!...

Ah! dou-te os sentimentos de minh'alma,
As minhas illusões ainda em flores,
peito que transborda de ternura...
O que mais posso dar-te, meus amores?!

Dou-te mais esta vida que só prézo
Si partilhas commigo os dissabores,
As glorias e venturas deste mundo...
O que mais posso dar-te, meus amores?!

Dou-te tudo, oh! querido de minh'alma,
P'ra merecer um só de teus favores,
Alma e vida - contente sacrifico...
O que mais posso dar-te, meus amores?!

Dona Anna de Albuquerque não deu á publicidade suas composições poeticas posteriormente escriptas, que, segundo sou informado, são nume-