Eu não era ambicioso, não! Foi o amor que me deu esta sede de poder. Os meus mais belos triunfos, acredite-me, senhora, não os sinto quando os alcanço, mas quando venho depô-los submisso a seus pés. A minha glória é essa unicamente, fazer de quanto o mundo respeita e acata a humildade de meu amor!...

Emília escutava enlevada. Às vezes o orgulho vibrava sua fronte nobre com um gesto divino. Oh! que tirânica beleza é a dessa mulher, que até mesmo quando eu a desprezo, me força a admirá-la!

Quando a voz que a raptava emudeceu, ela ficou suspensa um instante. Depois fitou os olhos no Chaves.

— E se eu exigisse, o senhor teria a coragem de sacrificar tudo a um capricho meu?

— Ordene!

— Não tenho esse direito — respondeu sorrindo. — Se o tivesse... não seria assim egoísta. Quisera ao contrário partilhar com o mundo inteiro os seus triunfos!

— Mas esse direito... lhe pertence! Tome-o. Eu lhe suplico!

— Não me sinto com forças.

— Sempre essa cruel palavra!

Como eu sofria, Paulo... Mas não! Sofri depois, ainda agora sofro! Naquele instante, nada, nada absolutamente! O que a revelação cruel produziu então em mim não foi nem dor nem indignação, mas um estupor d'alma! Eu ali fiquei, no idiotismo das minhas emoções.