me tinha congelado a palavra nos lábios. Essa mulher, cheia de graça e vida, tinha o mágico poder de fazer-se mármore, quando queria.

Nessa noite ela retirou-se mais tarde do que tinha costume. Ao sair passou junto de mim sorrindo:

— Não quis hoje conversar comigo? disse-me com um doce enfado.

Faze idéia do pasmo em que fiquei.

Emília continuou a ser para mim uma esfinge. Animado por aquela palavra afetuosa tornei-me assíduo junto dela; porém encontrava sempre o mesmo acolhimento; gelo na fronte, e sarcasmo no lábio. Era quando eu menos esperava, nalgum momento em que nos achávamos sós, que ela vertia sobre mim, num olhar ou numa palavra, a ternura de sua alma. Mas depois, quantos amargores, quantos azedumes não me custavam aquelas gotas de mel?

A reunião de que me falara D. Leocádia realizou-se afinal. Era o aniversário do Sr. Duarte. A casa do negociante encheu-se pela primeira vez de uma multidão de convidados. A festa começou de manhã e acabou em um baile esplêndido ao alvorecer do dia seguinte.

À noite uma cascata de luz, borbotando dos salões, despenhou-se pelos jardins e alamedas da chácara. Os repuxos de mármore esguichavam rubis e diamantes líquidos. As folhas, que a brisa balouçava, eram nesse adereço do baile as esmeraldas, tremulando entre áscuas de ouro.

Que magnificências de luxo, que pompas, a