para elegância da construção o arquiteto disfarçara com um terraço.

O gabinete de Emília abria uma porta para esse terraço. Ali no quadro iluminado pela claridade interior, via eu de longe desenhar-se seu vulto esbelto. Avançou até a borda do rochedo escarpado.

— Que vai ela fazer, meu Deus! balbuciei trêmulo e frio de susto.

Esquecendo tudo, para só lembrar-me do risco imenso que sua vida corria, fui para soltar um grito de pavor que a suspendesse; mas ela, resvalando pelas pontas eriçadas do rochedo abrupto, já tocava a planície. Pouco depois estava junto de mim, calma, risonha, sem a menor fadiga.

— Aqui estou! disse afoutamente, abaixando o capuz da longa mantilha.

— Para que arrisca assim a sua vida, D. Emília? Se eu soubesse... não tinha aceitado!

Ela ergueu os ombros desdenhosamente.

— Ainda estou frio!... Parecia-me a cada momento que o pé lhe faltava e...

— E eu morria!... Se não fosse isso teria eu vindo? Podíamos ficar onde estávamos, tranqüilamente sentados no sofá... Para que serviria a vida, se ela fosse uma cadeia? Viver é gastar, esperdiçar a sua existência, como uma riqueza que Deus dá para ser prodigalizada. Os que só cuidam de preservá-la dos perigos, esses são os piores avarentos!

— E quem se priva a si do mais belo sentimento,