minha vida, sem guardar para mim nem um instante dela! Tivesse eu essa opulência do meu coração, que então o senhor não me chamaria avara, mas pródiga e louca, porque eu sinto que o seria... Sim, louca, de minha louca paixão!

— Eu julgava que tinha medo de amar? Creio que me disse.

— De amar, não; mas dessas ilusões efêmeras, que murcham o coração. Quero o meu bem vivo, para dá-lo todo a quem for dele senhor. Talvez aquele a quem o der o dilacere. Embora! Devem de haver delícias inefáveis neste mesmo suplício! Depois que supremo consolo!... Sentir o orgulho de só ter amado uma vez na vida!.. Sentir que não restam do primeiro e único amor senão cinzas do coração extinto!

Esquecido já do desengano que recebera há pouco, eu palpitava sob a palavra apaixonada de Emília, como se fora o feliz que devesse merecer tão sublime paixão!

— Medo de amar? exclamou ela. — Pois saiba que mãe nenhuma espiando o primeiro sorriso nos lábios do seu filhinho teve os estremecimentos de ventura com que eu espreito o primeiro palpite de meu coração. Meu Deus, que júbilo imenso não deve ser o amor, quando a esperança dele nos enche assim de contentamento! Foi há cinco meses... quando o senhor voltou... Cuidei que ia amar.

— A mim?

— Sim, ao senhor. E desde então interrogo minha alma; escuto-me viver interiormente... Lembrei-